Casada e dois filhos: uma moça e um rapaz. Bonita, uma beleza comum de mulher, mas que chamava à atenção. Atração essa que eu não saberia explicar em detalhes, pois envolve sentimentos conhecidos por mim, creio no mais comum; tesão mesmo. Talvez para outro olhar masculino ou feminino, que fosse não viesse significar nada de especial como foi para mim.Mulher altiva, que antes dessa profissão qual exerce com dignidade e sabedoria desde que se casou, a de Mãe. Formara-se noutra, mas preferiu dedicar-se totalmente ao lar. Uma condição que para certas mulheres é indiscutivelmente desgastante, intencionalmente impossível e fora qualquer cogitação, cuidar do lar. Parece piada, mas não é. É pura realidade. Em alguns casos chegam ao suicídio. Por favor, sem risos, não é piada. (risos)No caso dessa mulher não as duas atividades. Por que só do lar? Era qualificada profissionalmente em assuntos administrativos e organizacionais para empresas de grande porte. Mulher de visão, além de prendada, aplicava o seu saber com o olhar investido numa grande família, por isso fazia tudo com muito gosto a fim de agradar e progredir no seu intento. Era o que ela queria; uma família. E assim ela fez até bem pouco tempo. Até quando soube das traições do marido, do envolvimento do filho caçula com as drogas, e sua filha; prostituiu-se aos l7 anos, mentia sobre seus relacionamentos, frutos advindos dos seus amigos de classe média alta.Seu castelo ruiu, o pomar cresceu espinhos, as flores secaram, ouvia grunhidos ao invés dos cantares dos pássaros, tudo beirava a loucura. O modo de vestir-se, de ver a vida e de interação, mudou, e radicalmente. Não havia mais uma preocupação demasiada com a filha, já que ela havia se amasiado com um homem de alta posição social desde os seus dezessete anos. Sabe-se dele apenas que é rico, mais velho, e que tem outra mulher, a dúvida, é se é casado.Do estrupício e safado do marido, o que ela sabia era coisa antiga, ficara mal acostumada com suas péssimas atitudes desde quando namorados. Aquela coisa de paixão cega... Só depois de muito tempo é que viu que a vida pregou-lhe uma péssima peça, hoje com arrependimentos incalculáveis.Os filhos debandaram-se, afastaram-se, sem comparecerem até mesmo nos finais de semana. A esta altura já adultos, formados, mas, deformados no caráter, nunca se importaram com o prazer de ser família.Enquanto isso, sem que se notasse de pronto, nem ela mesma, começara a perder todo aquele viço de mulher vibrante e sensual. Vivendo naquela casa quase que solitariamente, e não havendo muito que fazer e para quem fazer, já que o canalha do marido praticamente se ausentara da convivência convencional do dia a dia de um casal, ele chegava todos os dias às altas horas da madrugada.A partir desses episódios danosos para sua alta estima, ela passou a beber voluptuosamente. Um detalhe; ele não bebia, e se fazia superior por essa diferença, o bastante para que passasse a agredi-la verbal e fisicamente. A gota d’água foi quando chegou ao estágio de espancamento. Amigos e parentes tentaram salvá-la várias vezes das garras daquele que se dizia o homem dela. E a paixão dela por esse homem era tão forte que a fazia suportar tudo calada, e não tolerava interferência, e nem o conselho de ninguém.Mas havia alguma coisa no ar. Algo de mais grave estava em curso para acontecer. Sua atitude calada denunciava isso. Pronto, como retaliação ela passou a beber compulsivamente, e convidava seus amigos de copo para festas todos os finais de semana. Era o ambiente que ela sempre desejou casa cheia e festiva. Estava a partir daquele momento se formando uma nova família, esta constituída agora de vagabundas, mendigos, alcoólatras, drogados, e ás altas horas, também por policiais que vinham apenas para achacarem, favorecendo ao local, antes um lar, o status de bordel.Agora era tarde para o ex-marido tomar uma atitude, sim, ex, posso distingui-lo assim, pois não tinha mais voz ativa, em nenhum lugar da casa, sequer no próprio quarto, agora tomado para práticas libidinosas. A multidão alojara-se definitivamente se espalhando pelo chão da sala, dos corredores, e até dentro da banheira. Aliás, eles, os convidados, estavam ficando incomodados com a presença dele, pois reclamava demais. Inconformado com a situação, ameaçou, proclamou em alto e bom som que daria um fim em tudo, poria a casa à venda.Um silêncio sepulcral instalou-se. Olhares espios e nervosos começaram a rodeá-lo. A mulher surge do corredor, travestida ou incorporada... Garrafa de marafo na mão, charuto na boca, baforadas grandes... (gargalhada estridente). Um maltrapilho ajoelhou-se aos pés dela, ela mando levanta-se, ele cochichou alguma coisa. Ainda o silêncio.Ela começa a se aproximar. A gentalha vai abrindo o caminho, ela passa por cima de uns, em outros os pisa até ficar há meio metro, cara a cara, e dá a sentença:- Vai morrer hoje. Aqui você destruiu a primeira família do meu cavalo, e agora está querendo o mesmo com essa nova que ela arranjou... Mas eu não vou deixar (gargalhada debochada). Ordenou que o derrubassem no chão e o imobilizassem. Quebrou a garrafa cravando-lhe o gargalo na garganta e bebeu-lhe todo o sangue.A casa está abandonada há cinqüenta anos. Nada permanece vivo dentro dela. Dizem que é mal assombrada.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
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Um comentário:
Então é esta a toca secreta do meu amigo José Silveira...
Muito bem!
Não me leve a mal, mas é que hoje resolvi vir espreitar algo diferente do habitual...
Em boa hora o fiz, porque fiquei a conhecer um blog de qualidade inegável!
Um beijo e um Feliz Natal
(Cleo)
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