terça-feira, 23 de setembro de 2008

PAPOS COISA DE BOTEQUIM – V – A TRUCULÊNCIA

De posse dos documentos, o policial que conferia as identificações deixou cair uma folha de cheque e um cartão de visita que estava junto aos documentos, e curiosamente, um dos revistados tentou escondê-lo, pôs o pé em cima e tentou arrastá-lo para si. Uma tentativa de evitar algum tipo de flagrante. Foi quando o segundo policial entrou em ação.

Sacou a pistola do coldre, e de arma em punho apontada para baixo, aproximou-se e ordenou que os dois pusessem as mãos na cabeça e ficasse de frente para o balcão e com as pernas afastadas. O rapaz que tinha tentado esconder o cheque com o pé, bem que ensaiou argumentar alguma coisa. Isso fez com que o policial aproximasse, encostando-se de propósito no traseiro dele, e por trás do seu pescoço, murmurou alguma coisa. O cara ficou incomodado e respondeu qualquer coisa contrariando sobremaneira o carrancudo homem da lei. Algo muito grave. Acho que foi um erro; pois em represália tomou uma estocada na costela com a coronha da pistola. Chegou a ajoelhar-se. Deve ter doído.

Durante, e até mesmo antes da cena grotesca se desenrolar, ouviu-se no salão um zum zum zum de reprovação daquela barbaridade. O da farda olhou para trás e com o canto da boca espumando avisou:

- Ninguém queira bancar o “salvador da pátria”. – Preguem esses rabos na cadeira se não sobra pra vocês!

E continuou ordenando para que ninguém saísse, pois todos seriam revistados.

Os dois amigos se entreolharam, sacudiram os ombros, mas, fazer o quê, mesmo inconformados com aquela situação, ficaram, afinal estavam em igualdade de condições com todos os outros freqüentadores. Menos com os caras da lei. Claro, estavam armados e desalmados.

Nisso os outros dois outros policiais que estavam lá fora guardando a porta, entraram. Um era ainda mais carrancudo do que o que estava com a arma em punho, aquele que tinha cutucado o rapaz. Tinha três divisas de sargento cuspidas na ombreira, era um policial condecorado, uns botons coloridos presos no lado do bolso de peito da jaqueta denunciavam sua superioridade de mando. Uma daquelas honrarias devia ser de “excelência em arrogância a civis” isso pra não dizer “truculência generalizada”. Logo na primeira intervenção dele sentimos que ele era de truculência mesmo. E foi logo dando provas disso.

- Tem algum repórter, advogado ou jornalista aqui presente.

Alguns segundos, e levantou-se um homem de certa idade, cabelos grisalhos, (mais para branco total), dizendo que era Juiz.
O que se ouviu a seguir deu para todos ficarem boquiabertos, com a empáfia do sujeito de farda.

- Alguém por acaso me ouviu falar; de Juiz não sei de onde? – Não! – Então pra que essa palhaçada vovô. - Pode sair pra não mijar nas calças! – Saí, saí debandar!

E nisso, o amigo do Silveira já estava ficando impaciente. Soube-se que o homem é aparentemente pacato, aparentemente, mas na verdade é uma bomba pronta pra detonar, e ele como jornalista não se conformava com aquela situação. Infelizmente vivia-se numa época em que a maldade e a arrogância andavam fardadas, independente da cor delas, e se com ou sem divisas ou condecorações, então nem se fala.

Mas o Silveira adiantou-se.

- Saraiva fica na sua, você é turista... Quando te pedirem o documento, dê uma identificação que não seja a profissional, diga que é aposentado em viagem, mostre a passagem da Vasp e pronto. – Sei lá o que esses filhos da puta estão querendo!

- É você tem razão. – Já entendi... Eles não querem nenhuma notícia caso haja por parte deles um ato mais desastroso.

- É isso aí querido amigo. – Tu sabes melhor do que eu como a coisa está aqui. - És jorna... turista (risos).

– Continuemos com nossa birita. - Se a policia está em cima é porque esses dois estão devendo.

Os dois rapazes já algemados estavam sendo levados para a viatura. Policiais e seus dois presos quase já saindo do estabelecimento; são cercados por uns oito indivíduos, todos, uns armários, os policiais não se intimidaram, sacaram as armas. Foi aí a grande surpresa. Surge do nada para apartar, quem?, o Juiz , ordenando todos baixarem as armas. Pedindo um momento que o filho dele queria dar uma palavrinha com as “autoridades”.

Pasmem. Dobrando a esquina surge aquela Ferrari vermelha, acelera até em frente ao bar. Pilotando está aquela mulata gostosa, e de lado do carona o Cadinho, ele mesmo, ele e sua loja de ouro pendurada pelo corpo. Sai e bate a porta do possante com raiva.

Na mulata notava-se algo estranho naquele rosto cor de chocolate. Prestando bem atenção, percebia-se o enorme hematoma no lado direito do rosto dela, e que ela tentava disfarçar jogando para frente o aplique de cabelos rastafári. O Cadinho em pé na calçada ajeitava a sua camisa maneira, estampada, colorida. Enquanto isso olhava para o grupo que o esperava na porta, ainda dentro do bar. Deu uma olhadela pra mulata e esbravejou:

- Vai sua puta! Tira a porra desse carro daqui. Espere-me ali mais à frente. Não quero que tu fiques aqui de bobeira e ganhes uma bala perdida nesta bunda mole. – Que é! Não fique me olhando. Vai logo porra!

Deu até pena... Mas do carro. Ela arrancou com ele arrastando de propósito as rodas no meio fio. No mínimo por isso, outro olho roxo. Bobagem! Ela está acostumada, gosta. Se for boa a mesada; o que são algumas porradas. O cadinho caminhou até a porta, e antes de subir os dois degraus fez a sua habitual saudação:

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