terça-feira, 23 de setembro de 2008

PAPOS E COISAS DE BOTEQUIM - VII – FIM INUSITADO




- Comigo é foda... quando eu ganho uma parada eu pago a rodada.

- Chope pra todo mundo. – E uma cachaça e um conhaque pra aqueles dois ali, amigos do Vininho.

(aplausos) Tantos e ensurdecedores, mas que foram logo cortados pelos gritos e pelas tapas que o Cadinho dava nos dois rapazes.

- Vocês são uns ingratos, eu tiro os dois lá da roça, dou casa comida, escola, mulheres gostosas, e vocês me apunhalam pelas costas. – Que porra de cheque é esse daquele pé de chinelo babaca morto lá na esquina. – Seus bundas moles! – Vocês dois estão querendo me passar pra trás é?

- Nada disso padrinho! Foi sua mulher que pediu pra gente tentar cobrar dele, pra ela. – Ela disse que o senhor meu padrinho... Deu o cheque pra ela.

- Vaca! Ela ta me roubando! Vou ter que fazer um churrasco dessa vaca safada!

- Faz isso não padrinho!

- Faz isso não por quê? – Estão comendo ela?

- Deus nos livre padrinho!

- Mas vão comer a partir de hoje - Vão lá fora e tragam essa vaca até aqui. – Hoje eu acabo com tudo isso!

E lá foram os dois capachos. No demoraram nem cinco minutos, trouxeram-na quase que arrastada. O Cadinho ali no centro do salão, com a mão na cintura, prostrado, os olhos esbugalhados de ódio, foi logo ordenando:

- Tirem toda a roupa dela. – Tudo. - A calcinha também.

- Mas padrinho... Isso não!

- Calem essas bocas e façam o que eu estou mandando.

Quando iam começar a despi-la, ela afastou-os com as duas mãos, e começou a despir-se lentamente, tirou primeiro o curto vestido de malha branca, peça que jogou sobre uma das cadeiras. O que se viu não era um corpo, e sim um lindo monumento cor de bronze com um metro e oitenta de altura mais ou menos.

Estávamos diante de uma bela escultura seminua, de coxas torneadas, quadris volumosos, mas não exagerados, nádegas lustrosas, firmes e sem marcas de biquíni denunciando ali a prática do banho de sol de corpo inteiro, sem acessórios.

Daquele rosto com um ar debochado que exibiu quando entrou a primeira vez no bar, somente traços. O semblante agora era de desolação e talvez um pouco de vergonha, o que não acredito, já que outrora, antes de ser prostituta e dançarina erótica, fez filmes pornôs e apresentações de sexo explícito em boates prive. Semi ou nua, para ela devia ser mera formalidade ou não. Mesmo assim, com uma das mãos, ela tentava tapar a boceta e com a outra, tentava desvencilha-se do soutien, aliás, pequeníssimo em proporção ao volume dos seios; fartos, duros e aparentemente sem estrias. Continuou calçada com a sandália de salto plataforma, e isso deu uma nuance sexy na situação. Ficou ali de pé, de frente pra todos, que de mudos, mudos ficaram. Quem conhecia a fama do Cadinho, nem se atrevia a babar, engolia a saliva, e com aquela visão extraordinária iam acabar se afogando. Ela quebrou o silencia.

- O que é que eu faço agora seu filho da puta.

A tapa foi tão covarde e tão bruta, que ouve um esboço de reação de alguns. Mas aí... O Cadinho já estava perto do balcão e das duas 9 mm, Com o impacto a mulher caiu há uns três metros de distância e descomposta, pondo à mostra a sua mais íntima parte corpórea, carnuda e depilada em forma de coração. Os sobrinhos correram para ajudá-la a levantar-se. Enquanto isso, o Cadinho vociferava:

- Alguém aqui já bateu em mulher? (acendeu um charuto) [silencio]– Já vi que ninguém.

– E apanhar, alguém já apanhou? [silêncio] – Sei... Ninguém apanhou.

- Pois então eu vou confessar uma coisa aqui; estamos bebendo juntos, somos um bando de amigos e entre amigos a gente pode falar o que bem quiser porra. Eu amei essa desgraçada desde guando ela não era nada
até minutos atrás... Pensam o quê; ela era uma trombadinha viciada, eu tinha vinte e cinco anos, meus negócios; prósperos, tirei-a da rua, mandei-a pra escola e dei-lhe educação. Aprendeu o suficiente pra se virar sozinha, mas sabem o que ela fez: merda outra vez, se meteu com quem não prestava, prostituiu-se. Aí larguei pra lá.

- Quando um belo dia aparece meu segurança o Marcão caveira, segurando pelo braço uma morenaça dizendo que ela tinha dito que era minha afilhada... Eu não quis saber desse negócio de afilhada não meus irmãos... Quando eu saquei aquele mulherão; foi paixão a primeira vista... E ela disse que foi assim também. Aí... foi sopa com mel.

- Mas já viram né, durou pouco, porque essa safada me sacaneou legal. E não precisava, ela nunca pedia nada, mas eu sempre dava, porque esse negócio de dar jóias, roupas, carro, academia e cirurgia plástica... Isso não é nada pra mim. De uns tempos pra cá eu estava desconfiado, pois começou a me pedir muito. Ela pensava que eu não sabia. Aquele babaca tombou por causa dela. Vocês lembram que ela fez até uma cena aqui dentro entre os dois, tudo pra disfarçar. Mas essa cadela safada era amante daquele pé de chinelo, e por cima teve a petulância de me roubar pra dar pra ele. Eu criei uma cobra dentro da minha casa... E cobra criada é perigosa, dá muito bote. A gente corta a cabeça pra ela não morder.

- O quê você vai fazer comigo Cadinho.

- Vem cá! Deite-se aqui na mesa.

Ela levantou-se. E já sem pudor nenhum, mostrou-se toda. Deitou-se na mesa como ele tinha pedido. Ele alisou-lhe os cabelos, a face ferida, ela afastou a mão dele como se tivesse a incomodando por causa do dolorido. Olharam-se. Ele pediu a um garçom que estava próximo a porta, que a fechasse. Ninguém mais podia entrar. O que foi atendido. Abriu a braguilha da calça, e sem despir-se a possuiu ali em cima da mesa.
Ela fez bem o papel, entregou-se totalmente, gemeu, gritou, fez carinho, pediu mais... Mas não teve. Ele afastou-se, foi até o balcão, pegou uma pistola e aproximou-se da mesa. Ela, do jeito que ele a deixou quando se afastou, ficou. Exposta, e feliz, virou a cabeça em direção a ele e balbuciou:

- Cadinho pra quê essa arma... – Não faça nenhuma besteira.

- Eu jurei que seria o último, que filho da puta nenhum levaria minha mulher pra cama antes da minha morte. Eu fiz melhor; comi-a na mesa.

Com essa declaração, bebeu o último gole, caminhou em direção a porta, saiu, parou na beira da calçada, recostou-se num tronco de amendoeira. Meteu o cano da pistola na boca e atirou.
Os blocos passavam ao lado do corpo cantando ao som da batucada. Poucos paravam, ninguém chorava. Era Carnaval.

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